::27::
27 anos e caminho nenhum.
27 anos e todos os caminhos.
Toda uma liberdade e todo um desejo
Serena no meu auge
Guardando o último pedaço,
Resguardando-me do céu e do inferno.
Sorrindo entre nuvens.
Sérgio era um cara popular. Os amigos o invejavam. Vivia sempre acompanhado. Em bem acompanhado.
Passava, à noite, com uma bela garota em seu carro. Buzinava, dava oi aos amigos. Era a eleita do dia.
Ele as levava para a sua alcova, uma pequena mas bem decorada casa. Em tudo mimava as acompanhantes. A casa estava sempre limpa e com flores nos vasos. Havia queijos e vinhos saborosos. Sua especialidade era uma tábua de frios que deliciava suas amigas.
Naquela noite Lílian era a escolhida. Ninguém acreditou quando a viram no carro de Sérgio. Lílian era o que se chamava de boa moça. Recém passara por uma desilusão: a melhor amiga lhe roubara o namorado.
E lá estava ela a caminho do ninho de Sérgio. Ela se sentia bem. Descobrira que sua personalidade era outra, queria experimentar.
Tomava um sorvete, e Sérgio estava maravilhado com a pequena e angelical boca que lambia o doce, primeiro pelos lados, até abocanhá-lo todo, aparentemente imersa no prazer do ato.
Sérgio parou o carro, entrou numa lanchonete e de lá saiu com um pacote, quase sem conseguir enxergar o caminho de tanta vontade de chegar.
Lílian entrou na casa saboreando cada pedaço. Cheirou as flores e pôs uma no cabelo. Ligou o som e escolheu Vanessa da Mata, respondendo com um “Sim” às dúvidas que restavam na cabeça de Sérgio. Jogou os sapatos longe e pulou na cama arrumada e fofa. Aceitou o vinho que Sérgio ofereceu e sua pequena boca rosada adquiriu o brilho do líquido.
Sério sorria feliz para o deslumbramento da garota. Estava cansado da futilidade e superficialidade das mulheres. Lílian o surpreendia com tanta ingenuidade e com a sinceridade com que brincava com os enfeites da cômoda.
Satisfeito, pegou os pés da menina e os beijou, submissamente. Lílian calou para sentir melhor aquele calor que subia pelas suas pernas e provocava um arrepio no local onde seu ex-namorado nunca havia se permitido tocar.
As mãos de Sério subiram até o ponto em que o pudor de Lílian disse não. Ele a deixou e ofereceu o que havia no pacote: batons garoto.
Lílian sorriu. Adorava aquele chocolate desde menina. Gostava de colocá-lo na boca até amolecer. Chupava-o, escondida, já que mais de uma vez fora censurada por adultos por chupar daquela maneira.
Deliciando-se com o batom, esqueceu das mãos de Sérgio, que chegaram onde queriam. O chocolate derreteu ao mesmo tempo que Lílian, que sentia tudo mais quente. Antes que pudesse se recuperar, Lílian sentiu algo a invadindo. E percebeu que dois espaços seus estavam ocupados. E pela mesma substância. Enquanto lambia o chocolate, Sérgio também enfiava o doce na sua xoxota virgem.
Concordo com Pessoa: tudo é ousado para quem a nada se atreve. E eu andava pouco atrevida. E achei você. E quis ousar. E ousei revisar você. Porque só assim poderia apresentá-lo. Como apresentar o que não se conhece palmo a palmo?
Por que não ser a fina flor do erotismo? Pulsando alegre em seus toques doces. Emergindo contemporânea por seu graçar antigo? Provocando libertação em teu peito jovem?
Ainda imagino teu livro não fechado. Quero ver você crescendo nas letras que escreve. Posso jogar galhos na tua lama doce. Posso ser seu bálsamo e sua cruz. Posso cruzar o deserto contigo.
Quero ver emergir você de um riacho claro. Do meu riacho.
Quero você respondendo minhas perguntas. Quero sua alma presa a minha, ao mesmo tempo liberta para chegar onde quero.
Sem sombras, sem lágrimas, apenas a água que corre clara. Apenas a minha saliva que escorre também doce.
Apenas uma mistura. De eu e você.