66.
Eu olhei o céu, mas não vi sol. Fazia o caminho de todos os dias como se estivesse perdida. O olhar vazio, sentia-me sem vida: Precisava de todo o chão possível. E, para mim, não existia chão sem céu.
Rascunhava sem sentindo em meu trabalho indeciso, indecoroso e quase cômico. Não era engraçado. Era um tédio, um cansaço quase exaustão, uma sequência ininterrupta de não-férias.
Ontem não houve sono. Fugi para imagens fáceis, que sempre terminavam trazendo ele. Suada, buscava e ansiava, mas nada adiantou: o dia chegou e eu estava em piloto automático.
Eu sei o que acontece com desejos obscenos não realizados: bolhas de calor passeiam pelo seu corpo, te deixam insone, depois criam crostas gélidas. Então o desejo ainda está lá, mas agora inacessível sobre as crostas geladas. E eu toda então me tornava fria.
Eu fria, o mundo sem sol, os caminhos perdidos, as não-férias ininterruptas: mais um dia descartado do baralho.