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65.
domingo, fevereiro 15, 2009

::Plantação::

A moça procura emprego. Currículos deixou por onde há. Farmácias, shoppings, motéis, lojas. Trabalhar em motel é legal – você não precisa sorrir para o cliente, aliás, você deve mesmo evitar olhá-lo. É bom desviar do contato humano. Para que complicar?

Ela quer casar. Senta-se, empertigada, grandes olhos verdes. Ela poderia muito bem trabalhar na C&A. Tem seus objetivos. É que o namorado quer casar. Ele, que é a vida dela. A própria vida dela. Princípio e fim.

Ela tem ciúmes. A vizinha se veste (ou se despe?) para ele. Folgada! Mas ela não engole desaforo, cospe-os, e longe, para que a moça ouça. E a moça ouve exatamente o que quer.

De raiva, a noiva já rasgou as cartas da ex-namorada do amado. E ele rasgou as cartas que ela recebeu em outros tempos. Mas tinha uma boa justificativa: o rival escrevia mal.

Linhas mal feitas não ganham eternidade. Que as rasguem amantes pelo mundo. Estamos cheios de juras de amor.

O passado é só cinza que cai pelo tapete. Cinza de doce cana de açúcar a macular o lençol branco. A pureza só é possível quando se está marcado. E sempre há alguém disposto a colocar fogo na próxima plantação.



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